quinta-feira, 29 de setembro de 2011

SISTEMA VIDA ─ PLANETA TERRA


30/09/2011
POST 1

Estamos dando início a uma pequena série de conversas sobre o Sistema Vida ─ Planeta Terra, como uma forma de colaboração  à preparação da RIO + 20, Fórum a ser realizado em 2012, comemorando os 20 anos da ECO 92, também conhecida como CÚPULA DA TERRA, realizada no Rio, em 1992, com a participação de 175 nações. O resultado dessa reunião foi a assinatura da AGENDA 21 e um esboço da CARTA DA TERRA.

20 anos após, a maravilhosa CARTA DA TERRA, em sua versão definitiva aguarda, ainda, seu reconhecimento pelas NAÇÕES UNIDAS.

Deixamos site para conhecimento e consulta, do acima: 

Bem, neste post 1, tomamos a liberdade de replicar algo escrito em 2009 e enviado, por nós, a diversas organizações, revistas,  além de espalhar por locais públicos, da cidade, com pedido de  xerocar, caso fosse considerada importante. É um pouco longa, mas imprescindível para o que trataremos em posts seguintes.

Será colocado todo em itálico.

PRODUÇÃO ─ CONSUMO ─ TAXA DE CRESCIMENTO
Tripé do holocausto ecológico e humano 
nov/2009

Costumo conversar com jovens, faixa etária de 15 a 23 anos, sobre a problemática mundial ─ planetária ─ de esgotamento de recursos naturais, níveis de poluição ambiental e outros, correlatos. Nessas ocasiões, peço a eles que façam um pequeno exercício,  observando o local onde estão ─ casa, apto., faculdade, escritório etc., observando que tudo que compõe esses lugares ─ inclusive as próprias construções ─ tudo, absolutamente tudo saiu da Natureza do Planeta Terra. Não veio de Marte, de Júpiter ou de qualquer outro local do Espaço Cósmico; saiu tudo do Planeta Terra.

Peço a eles, ainda, que imaginem todas as construções ao redor; todas as construções daquele bairro, daquela cidade e alcem voo, imaginando todas as construções do Estado onde moram, do País, do Continente, de todo Planeta Terra, enfim. Desde as coisas mais visíveis até uma simples agulha, um simples palito de fósforo, tudo, absolutamente TUDO, saiu e sai da Natureza do Planeta Terra, inclusive o que  eles estão vestindo,calçando, usando como adorno; seus celulares, o sabonete com que tomaram banho antes de sair de casa, perfumes nada, absolutamente nada deixou de  “lesar” a natureza quando seus materiais constituintes foram extraídos, causando danos e desgastes inclusive durante etapa de beneficiamento/produção, pelo consumo necessário de energia do sistema produtivo.

Costumo começar os papos com mais ou menos o que consta acima, porque é  fácil perceber que os jovens, por estarem já “embutidos” nesse tipo de cenário, não conseguem perceber a razão em se falar tanto nas precárias condições do Planeta, como um todo.  É difícil para eles processar, com exatidão, o que isso tudo significa; eles vivenciam esta época, esta realidade que lhes foi brutalmente imposta pelos irresponsáveis que hoje, na condição de 3ª idade, se arrogam ─ a grande maioria deles ─, de terem participado dessas mudanças radicais, em termos de evolução da sociedade humana. Realmente tivemos um avanço incrível, mais especificamente após 2ª guerra  mundial ─ por essa razão enfoco os da 3ª idade ─; foi algo vertiginosamente grande e rápido,  impensável até para os mais chegados  ao futurismo. O estranho de tudo é que ninguém, com poder de decisão, pensou nas gerações que viriam; aliás, hoje, ainda hoje, os próprios responsáveis diretos pelas crianças que serão os adultos de amanhã, parecem estar estranhamente fora de foco, fora da realidade do que é possível vir, não para o próximo século, e sim, para este século e antes mesmo da metade dele.  A “ficha” ainda não caiu para a grande maioria das pessoas; continuam a viver como se suas “caixinhas de vida” não fizessem parte de toda a Natureza, de todo Planeta, do Universo.

A questão prática é pensar no que ainda pode ser feito ─ se é que ainda é possível fazer algo para reverter, em parte, o processo acelerado de disfunção planetária. E aí ficamos frente a frente com várias barreiras, aparentemente intransponíveis, quando pensamos no Sistema regente dos mecanismos da sociedade contemporânea ─ Capitalismo. O Sistema Capitalista tem sua “sobrevivência” praticamente atrelada ao verbo CONSUMIR.

Vejamos o verbo Consumir: 1. Utilizar, gastar.  2. Corroer até completa destruição; gastar. 4. Destruir, extinguir. (conforme Dicionário Escolar da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras)  (negritos da autora).

Na “esteira” rolante ( apenas para lembrar de shopping center) do verbo consumir vieram  a uso os derivados:  consumismo, consumista e consumo, todos impregnados da mesma essência predadora insuflada pelo Sistema Capitalista.

Diariamente as pessoas são “incentivadas”, através das mais estratégicas propagandas ─ a neuropropaganda que o diga ─ a  comprar, comprar, comprar; esse é o  aspecto funcional e fantasioso, do consumo e, altamente atraente para grande maioria dos seres humanos que, exacerbadamente compra, alimentando a cadeia produtiva, “azeitando” sua engrenagem para que despeje, no mercado de consumo, milhares e milhares de produtos. Não é para menos que o 1º termo da fórmula de cálculo do PIB ─ Produto Interno Bruto ─ é o C que significa ─ consumo privado. Sem consumo, a produção estagna,  ou entra em forte declínio, provocando “catástrofes”  ─ pelo menos as mídias proclamam isso ─onde for constatado um PIB fora dos padrões de máximo percentual de crescimento, possível. Atualmente a China está sendo focada por suas fantásticas taxas de crescimento, sem se pensar ou analisar, por um segundo, o custo ambiental embutido, dramaticamente, nessas taxas, como em qualquer outra, de qualquer outro país, por menor que seja.

Pelo pouco que vimos acima, podemos, com extrema facilidade, entender que estamos, no mínimo, num beco sem saída. De um lado, o sistema vigente praticamente nos obriga a consumir o máximo possível do que for produzido, para que o sistema não entre em colapso, causando sérios comprometimentos ao status  do sistema e da própria sociedade, como um todo. De outro lado, as consequências desse desvairio econômico-social estão se tornando cada vez mais sensíveis, através de alertas da Natureza, através dos mais diversos tipos de catástrofes naturais, mais fortes e mais constantes, além do crescimento desordenado da alienação social que não consegue “ligar” as peças de um  quebra-cabeça perturbador : o que fazer para  que as condições do Planeta, em termos naturais, permitam a  continuidade  de vida das espécies ─ nesse grupo incluída, é claro,  a chamada “espécie humana”─  e, ao mesmo tempo, permitir uma certa normalidade de funcionamento ao sistema produtivo?  Voltaremos a esta questão mais adiante.

Uma das consequências mais sérias e debatidas desse sistema altamente destrutivo ─  apesar das aparências enganosas  de que ele é altamente voltado ao bem estar social ─ é o chamado Aquecimento Global que tem como causa mais específica, o efeito estufa, que, em seu aspecto natural é um processo que tem como resultante, manter o equilíbrio das temperaturas no Planeta Terra mas, agravado  por ações não naturais  e sim,  ações antrópicas ou seja, ações da espécie humana, está atingindo níveis alarmantes.

O  efeito estufa ─ e consequentemente o aquecimento global ─ tem como causa principal a emissão de CO2 ─ o já conhecido dióxido de carbono ─  produzido , principalmente,  pela queima de combustíveis fósseis utilizados em veículos automotores que usam gasolina e óleo diesel.

Desde  o ano 2000, houve um crescimento de 3,5% ao ano dados de 2008) de emissão de CO2. Em 1990, o aumento das emissões era de 1% ao ano.  A concentração de CO2 atual tem sido considerada a mais elevada dos últimos 650.000 anos!  Importante não esquecer que esses dados estão sendo analisados por cientistas do mundo inteiro e não esquecer, também, que o chamado efeito estufa, de origem natural, sempre esteve presente em nosso Planeta; o que está  provocando alterações graves, são as ações antropogênicas.

É bem provável que os terremotos acontecidos entre 1990 e 2006,  num total de 25, todos com  magnitude acima de 6 graus  da escala Richter, ─ sendo os dois piores o de 2004,  com 8,9 graus e de 2005, com 8,7 graus, Richter ─, tenham tido forte influência do efeito estufa, pois catástrofes como essas são alguns dos seus efeitos, pelo agravamento em seu processo natural.

E não são apenas os terremotos que estão causando preocupação; temos alterações climáticas marcantes; temos secas, temos enchentes, temos maremotos, temos alterações nos ciclos naturais do Planeta, principalmente na produção agrícola ─  não há mais a correta vigência das estações e as plantas se recentem, imensamente, dessas alterações climáticas.  Até mesmo a vida marinha está em risco pelas alterações que estão ocorrendo justamente em função da grande concentração de CO2 na atmosfera terrestre e também pela pesca predatória; os peixes também estão sumindo e olha que mares e rios eram fervilhantes de peixes!

Como estancar, ou melhor, como diminuir a emissão de CO2 para a atmosfera se só numa cidade como São Paulo, por exemplo, são mais de  4.857.880 (dados de junho/09) além de 41.628 ônibus, sem contar  motos, caminhões que trafegam por ela??????????????????

A questão merece esse exagero de pontos de interrogação, muito mais  até, pois a cada dia a frota de veículos automotores, cresce, inundando o meio ambiente de mais  gases poluentes. Tenho minhas dúvidas que a quantidade de casos de câncer de pulmão, e o aumento vertiginoso de pessoas com algum tipo de “entupimento venoso” tenham apenas o cigarro como componente principal; essas partículas penetram em nosso organismo  causando grandes alterações e danos nos organismos, o que é evidente, pois somos parte do ecossistema, já  combalido pelas  diversas condições agressoras. Só para ver como as coisas não são analisadas seriamente, muito pelo contrário, há uma grande campanha mundial contra o cigarro ─ não sou contra, apesar de infelizmente, ser fumante ─  mas,  pouco se houve falar ─ a não ser em círculos mais fechados ─ dos malefícios causados pela emissão de CO2  dos veículos automotores, na  vida urbana. Várias cidades estão proibindo cigarros em diversos locais  mas as autoridades da maioria dessas cidades ─  brasileiras, principalmente, ─ não se importam ao ver grande parte da frota de ônibus, caminhões  e outros utilitários, despejando fumaça escura pelo cano de escape, chegando mesmo a  dificultar, rapidamente, a visão dos motoristas  que vem atrás. Alguém já calculou a quantidade expelida por veículos  e aspirada pelos transeuntes a cada golfada dessas? Quantos cigarros são necessários  uma pessoa fumar,para igualar  a ingestão feita  dessas e outras partículas poluidoras despejadas, várias vezes ao dia, sobre ela, em direção a ela?

É claro que outros elementos nocivos participam  da agressão ao meio ambiente, e são muitos, mas falaremos apenas de dois deles. Um, é  o óxido nitroso(N2O), que  tem como principal  fonte de emissão a agricultura, em função do uso indiscriminado de fertilizantes  que bem devem fazer os fertilizantes ao organismo humano, não? Esse N2O  é simplesmente 310 vezes mais poluente que o CO2. Só por curiosidade, na década de 50, eram produzidas, no mundo e aplicadas na agricultura de então, cerca de  3 milhões de toneladas de óxido nitroso. Atualmente essa cifra alcança, nada mais nada menos que ─  50 milhões de toneladas!

O outro, o hexafluoreto de enxofe (SF6), gás usado  como isolante, é 23 mil vezes mais agressivo ao meio ambiente do que o CO2. O pior é que as coisas não param por ai; a lista é enorme, cansativa,  mas real, infelizmente!

Ah, não nos esqueçamos das grandes criações de gado, que além de destruir importantes  áreas produtivas ( ceifando, na maioria das vezes ,a vida de milhares de árvores ), usando-as então, para pastagens, também colaboram para o aquecimento global. Pior que isso,  ainda, é a dor e o sofrimento dos animais  que impregnam  a alma do Planeta Terra, da Mãe Terra.

Com todas essas questões preocupantes  e não sem motivo,  pois até cientistas estão divulgando importantes alertas que chegam, através das mídias, bastante  minimizados, pelo poder do sistema vigente, é claro, pois a maioria das mídias sobrevive graças a enxurrada de propagandas exibidas ─, com todas essas questões preocupantes, repito, milhares de congressos e reuniões são realizados e sem nenhuma atitude mais decisiva e sim, projetos para minimizar a questão dos poluentes  com prazo para 2050!  Isso parece piada, mas não é porque o impasse é extremamente complexo: deixar as coisas mais ou menos como estão,  irá possivelmente, penalizar até a morte, milhares de pessoas no Planeta; em contrapartida, tomar atitudes audaciosas e necessárias irá, com certeza, enfraquecer em muito, o sistema produtivo, o sistema econômico, enfim, o status quo gerado pelo capitalismo e seus correlatos diretos: produção, consumo e lucro.

E o que poderia fazer cada pessoa?  Grupos de pessoas? Temos alguma alternativa de ação particular ou devemos continuar alienados?  Não fazer nada é o mesmo que fazer o que está sendo feito; é concordar, é aceitar, é deixar o “barco correr”, é “pagar prá ver”, é ficar omisso perante o maior dilema da existência humana ─ mudar, tentar mudar ou perecer, até mesmo como espécie.

Outro  dado alarmante diz respeito a possível escassez, bem próxima, de algo sem o qual não poderemos sobreviver:  a água.  A previsão é que até 2025 estejamos envolvidos numa grave crise de água.

Apesar dos alertas, a grande maioria das pessoas age como se isso fosse tema de ficção científica; nada real, nada próximo; tudo lançado para um futuro, tão longínquo, “pensam”! E assim, continuam a consumir água ao bel prazer; banhos  intermináveis, lavagens dos carros, pois uma “poeirinha” desmoraliza  seu usuários, além,  é claro,  de ofuscar a beleza daquela máquina que faz parte, que é símbolo de um tolo status social. Quantas vezes passamos em frente a casas ou luxuosos prédios e vemos o enorme desperdício de água na lavagem de calçadas, de grades, sem esquecer que isso é feito com constância exagerada. Como será quando a água potável ─ essa mesma, infelizmente, usada para banhos, lavagem de carros, de calçadas, de grades ─, estiver  com seus dias contados?  Israel, que sempre sofreu com a problemática de falta dessa benção da Natureza,  já faz seu tratamento de dessalinização, obtendo água potável do mar e agora, estão desenvolvendo tecnologia que transforma ar em água. 

Por todas essas situações é que vejo que os jovens de hoje, que as crianças de hoje foram brutalmente penalizadas  pois não sabemos dizer a eles, naturalmente falando, como estará o Planeta daqui a 5,10 ou 20 anos; da forma como estão evoluindo as alterações no ecossistema,  não há como prever, com absoluta certeza, as reações da  mãe  NATUREZA.

É evidente que quando falamos no sistema vigente ─ Capitalismo já cognominado de SELVAGEM ─ como vilão da situação atual de desequilíbrio ecológico, humano, social  precisamos, com certeza, observar seriamente que os grandes culpados, em verdade, também somos nós, seres humanos. Somos nós que aceitamos tudo que nos foi, digamos assim, imposto; somos nós, seres chamados de humanos que nos convertemos nos grandes consumidores dos recursos do Planeta Terra; somos nós, seres ditos racionais que, irracionalmente vivemos totalmente alienados das questões que mais nos dizem respeito por serem as que podem ou não, nos manter vivos e permitir a continuidade de vida daqueles pelos quais somos responsáveis porque os trouxemos ao mundo e que ainda dependem de nós ─ as crianças e os adolescentes. Somos nós, seres humanos que não queremos ceder em absolutamente nada, em favor do TODO; somos nós que ainda estamos no estágio mais que primário de considerar o ter, o possuir, o querer a todo custo, mais importante que ser e viver. Somos nós, seres humanos que nos deixamos enredar por mídias perniciosas, que mascaram a realidade por medo de perda de ibope, que ocupam pequenos espaços para notícias importantes referentes à problemática debatida acima e encerram suas edições com notícias floridas e encantadoras como que para ─  deletar o mais importante. Essas mídias insuflam a importância das Taxas de Crescimento da Economia local e mundial, como se isso fosse o mais importante  do momento em que vivemos. Para elas, isso é simplesmente  prioritário, pois  Produção e Consumo revertem-se em propagandas que lhes permitem, na grande maioria das vezes, extraordinários lucros.

Produção, Consumo, Lucro e Taxas de Crescimento precisam ser urgentemente repensados! Creio que já está passando da hora de uma decisão importante que seria equivalente a:

 MENOS CONSUMO, MENOS  LUCRO E MAIS VIDA! 

Palavras apenas não bastam; sugestões são importantes  mas a  necessária radicalidade das mesmas, justamente  em razão da situação já  existente e da  prevista, dificilmente as tornará viáveis pois exigiriam certa dose de “sacrifício”, que poucos, muito poucos estariam dispostos.O ser humano não consegue perceber, ainda, o que realmente está acontecendo, pois tudo parece tão bem! Vamos aos supermercados e encontramos praticamente tudo que precisamos ali, ao alcance das mãos. Vamos ao shopping  e aquelas maravilhosas lojas nos enchem de entusiasmo, de alegria , de vontade de comprar, comprar, comprar. Olhamos para o céu, se é que ainda fazemos isso, e aparentemente, está tudo bem. Para os que não conseguem ver, realmente nada parece ameaçador. Será que nós, seres humanos teremos que esperar um pouco mais para ver tudo “desmoronando”, para então dar crédito aos ALERTAS  que chegam dos mais diversos pontos?

E olha que todos os aspectos funestos do chamado desenvolvimento já foram exaustivamente comentados, tratados. Um dos mais influentes pensadores, de nossa época, Fritjof Capra, em seu livro O Ponto de Mutação, publicado em 1982, com publicação brasileira em 1986,  fez um excelente trabalho de exposição das diversas situações adversas, resultantes do sistema econômico vigente. Esse livro continua atualíssimo e sua leitura é emergencial.  Vejamos apenas duas colocações feitas por Fritjof Capra, no livro acima citado.

→ “Uma das características predominantes das economias de hoje, tanto a capitalista quanto a comunista, é a obsessão com o crescimento. O crescimento econômico e tecnológico é considerado essencial por virtualmente todos os economistas  políticos, embora nesta altura dos acontecimentos já devesse estar bastante claro que a expansão ilimitada num meio ambiente finito só pode levar ao desastre.”  (negrito da autora)

→ “Grandes setores do pensamento econômico atual baseiam-se na noção de crescimento não-diferenciado. A idéia de que o crescimento pode ser um obstáculo, de que pode ser pernicioso ou patológico, nem sequer chega a ser cogitada. Portanto, necessitamos urgentemente de uma diferenciação e de uma limitação do conceito de crescimento.” (negrito da autora)

Mais de 25 anos nos separam das ideias lançadas, mundialmente, por Fritoj Capra e absolutamente nada foi feito, em grande escala. Fala-se muito, hoje, em desenvolvimento sustentável, em sustentabilidade; considero esses termos apenas termos; nada de eficiente está sendo feito em concordância com as proposições para as quais, tais termos foram cunhados. A única coisa que se vê, de mais real, é o exorbitante preço de produtos que trazem estampado selo com dizeres tais  como ─ ecologicamente correto, ou outros,  similares.

Retornando, dizem que os pais são capazes de dar a vida pelos filhos; as exigências da atual situação não chegam  a tanto, ainda.  Entretanto, os adultos de agora, precisam tomar uma séria decisão em favor da vida:  mudar tudo que for possível ou  continuar na mesmice e decretar a falência do mundo naturalincluindo-nos, é claro, nele. As pessoas que têm descendentes  ─ filhos, netos, obrigatoriamente terão que ser  mais atuantes  no sentido da continuidade de condições de vida no  Planeta Terra, seja aqui no Brasil, na China ou em qualquer lugar do mundo. O ônus maior, de culpa, caso  venha a ocorrer situações insustentáveis de vida ─ como está previsto ─ caberá aos responsáveis pelas crianças e adolescentes, de hoje, pelo descaso e omissão por suas jovens vidas.

Por essa razão ─ e mesmo considerando as dificuldades de implantação  de uma das sugestões ─ colocamos duas propostas por ser o máximo que uma simples pessoa, do povo, pode fazer, face ao que vê e analisa, sem nenhum receio de alguém chamar essa atitude de ridícula.

  Sugestão:  Plantio de árvores frutíferas no maior número possível de ruas, de cidades brasileiras, no caso.  Terão que ser árvores frutíferas porque elas irão auxiliar, fundamentalmente, abastecimento futuro de alimento. Vejo a possibilidade desse plantio em bairros, em número de 2 ou 3 (no mínimo),  por face de quadra ─ face norte/sul/leste/oeste.  Além disso, podem ser plantadas em jardins de prédios;  em qualquer espaço em que seja possível, deveríamos plantar uma árvore.  Teremos uma demora, em média,  de 3 anos para que elas comecem a produzir frutos  e permitir certa filtragem do ar, tornando-o mais saudável. A viabilidade dessa sugestão está apenas em se analisar, junto aos órgãos competentes, as questões básicas de encanamento, dutos, esgotos para que nada seja comprometido.  A  preocupação de que esse tipo de ação irá “poluir” as ruas com folhas e alguns frutos caídos, não poderá, em hipótese alguma,  ser fator determinante de impedimento. A produção de cada quadra, além da utilização pelos próprios moradores, poderá ser distribuída a entidades. Os próprios moradores de rua, os sem teto, poderão e irão  fazer uso delas, sem que isso seja considerado “transtorno”.  Essas árvores poderiam ser plantadas, ainda, em toda a extensão de rodovias, evidentemente resguardando distância necessária, das pistas, para evitar qualquer tipo de acidente. Enfim, plantar árvores frutíferas em todo e qualquer lugar possível, no país inteiro, no mundo inteiro!

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE:  Sugestão de plantio de árvores frutíferas já foi feita através do Fórum Social Mundial ─ Projeto Árvores Frutíferas para o bem de todos.


  Sugestão:  Paralisação  de carros de uso particular

Esta é a sugestão mais polêmica e radical porque vai de encontro, com o hábito mais difundido na sociedade contemporânea ─ a utilização, muitas vezes indiscriminada, de carros.

Não vou me alongar muito, pois não creio ser necessário. A radicalidade da sugestão é que os carros terão que parar de circular; as pessoas terão que administrar, de alguma forma, essa questão. Provavelmente a frota de transporte coletivo  terá que ser aumentada e novas linhas diferenciadas devem  ser criadas. Motos (infelizmente também poluentes) bicicletas, patinetes, patins  etc.,  poderão oferecer alternativa, além é claro, de se retomar  o hábito de caminhar, o que faz muito bem a saúde!

Muitas questões teriam que ser analisadas na adoção desse sistema de Não Carro. Um dos pontos seria o das pessoas com determinadas profissões em que os deslocamentos de um a outros pontos devem ser rápidos;  professores que lecionam em mais de um colégio, médicos que transitam de um a outro hospital, por exemplo. Horários de entrada em escolas, em empresas poderiam ser  flexibilizados. Além disso, os carros poderiam ser liberados apenas nos finais de semana, talvez entre 18 horas de sexta-feira até meia noite de domingo, além, é claro de quem for usá-los para viagens.

Tenho absoluta certeza que essa ideia de NÃO CARRO  é algo que, em princípio, é inimaginável para a maioria das pessoas; admito que o é, realmente, mesmo não tendo carro e fazendo uso de transporte coletivo, admito que as reações devem ir desde tirar  sarro da sugestão, até ser taxada de ideia imbecil, idiota,  por  tal “absurdo”.  Mas, é isso ai. Não se pode ter medo em expor questões que, no mínimo, podem ser chamadas de lógicas, pois se o aumento desmedido de CO2, na atmosfera terrestre tem, como um dos principais fatores,  a utilização de veículos automotores, então, logicamente, suspendendo essa utilização por tempo ─ em princípio ─indeterminado, teríamos como saber em quanto essa atitude favoreceu o ecossistema, do qual somos parte integrante.

Pensemos resumidamente: temos um grande problema ─ excesso de CO2 na atmosfera. Temos conhecimento de uma das causas principais ─ utilização maciça de veículos automotores. Se temos o problema e conhecemos uma de suas causas principais, então a solução a curtíssimo prazo, para resolver o problema,  logicamente seria eliminar essa causa, ou seja, não usar os veículos automotores de utilização individual, particular.  Tudo o mais que se pensar, no momento, seria paliativo e enganoso,  em relação à magnitude da questão.

Vou tomar a liberdade de parafrasear a já famosa frase de Barak Obama, para responder se temos ou não condições de reverter os aspectos sombrios do que vimos acima: 

SIM. NÓS PODEMOS”.  

Para isso acredito que vontade de viver, que  amor ao próximo ─ mesmo que esse próximo seja apenas os que estão intimamente ligados a nós ─ ,  vontade férrea de alterar condições adversas, mudança em  nós mesmos e no que fazemos sempre e igual, são os principais incentivos À AÇÃO ─  INDIVIDUAL E COLETIVA!

Admito que fui muito mais prolixa  do que desejaria; mas o assunto assim o mereceu  e talvez, merecesse muito mais.  Estamos tratando de algo importante e sobre o qual ainda podemos ter livre-arbítrio, tomar uma atitude concreta para, no mínimo, testar sua eficácia. Sabemos, entretanto, de várias outras questões muito delicadas que também expõe a humanidade, todos os seres da Natureza e até mesmo o próprio Planeta Terra. Não falaremos aqui dos perigos que rondam  a  enzima chamada de VIM-2 existente em superbactérias, caso algum geneticista, ouse alterá-la. Não falaremos também de um devaneio da nanotecnologia ─ maravilhosa em seus aspectos positivos, mas extremamente potente, letalmente potente, se assim o quiserem os que dela têm conhecimento profundo─, devaneio, cuja simples ideia de se tornar uma realidade,  é um dos mais terríveis pesadelos que alguém poderia ter, representado pelo que foi denominado de  “Gray goo” ─ uma nano-substância hipotética ─ talvez...,  por  enquanto, hipotética.

Por que não falar deles e de tantos outros?  Porque não temos a mínima chance de exercer qualquer pressão sobre tais coisas; estamos todos nas mãos de pouquíssimas pessoas que, caso cometam um pequeno deslize, ele será, provavelmente,  fatal para todos, inclusive os próprios, desde que não tenham já pensado em pular fora do Planeta, antes do acontecido.Uma brincadeirinha como essa do final do parágrafo é só para descontrair, certo?

Será que tudo que estamos vivendo, que estamos precisando mudar, não é um veemente apelo para que consigamos captar, da Consciência Universal ─ anexando, então, à nossa consciência humana─ um quantum informativo  sobre uma nova era, prevista como final de um tempo e início de outro, previsão essa, profundamente inserida em várias correntes esotéricas e até mesmo, científicas ─ cada uma em seu contexto, mas com grande índice de “coincidência” ─ tendo o ano de 2012, como momento culminante? 

Falamos sobre isso, pois sabemos que outras coisas estão em andamento na Terra, no sol ─ e seu sistema ─, na Galáxia, coisas sobre as quais, absolutamente nada poderemos fazer, pois estão além, muito além de nosso campo de ação, não pela distância, em si, mas por desconhecermos as razões e, é claro, as possíveis consequências das “revoluções” universais,  hora em andamento e  de forma mais  “observável”, pelos  “olhos” de cientistas, geofísicos, astrônomos. É preciso observar que sempre houve e há movimentações por todo o Universo; nada está parado; em tudo há sempre movimentos de toda ordem, mas, em algumas épocas ─ inseridas em um determinado éon ─ essas movimentações tornam-se atípicas,  ocasionando  mudanças de alto nível. Parece que a época atual está predestinada. Grandes e importantes mudanças deverão ocorrer!

Por essa e outras razões não nos esqueçamos    em tudo e acima de tudo existe a ENERGIA UNIVERSAL ─  conhecida em cada esfera religiosa, em cada credo por uma denominação específica  ENERGIA essa atuante e que, em verdade, tudo pode, mas que espera que o livre-arbítrio do ser humano   seja convenientemente exercido, em condições de adversidade, permitindo-se MUDAR, ALTERAR CIRCUNSTÂNCIAS DESFAVORÁVEIS, ENQUANTO  ─ E ONDE ─ É POSSÍVEL  FAZÊ-LO.

Autoria:  MRMM
      Estrela Lunar Amarela 

Se você achou válido, por favor, tire fotocópia e distribua, como forma de auxílio à conscientização. Agradeço.

domingo, 25 de setembro de 2011

PARSHVA E OS ANIMAIS


25/09/2011

Encontramos no livro ─Bússola Espiritual, de Statish Kumar, essa bela passagem (chamada destepost),  que foi escrita para contar parteda história de Parshvanatha ─ Parshva ─ o penúltimo Thirthankara, reconhecido por historiadores.

Tirthankaras são figurasproeminentes do Jainismo, uma das religiões hindus. São seres, nascidos humanosque,  através de autoconhecimento,alcançaram libertação  ─moksha ─ do ciclode renascimento. Foram eles, então, reveladores da doutrina, ao longo de váriaseras.
O Jainismo, em sua formaatual, teve seu surgimento datado, por historiadores,  no século V a.C. e Parshva,  foi o penúltimo Tirthankara, dos 24nominados; o último foi Vardhamana, de quem mais se ouve falar, pelo nome deMahavira.

Vamos ao texto, todo emitálico.

Certa vez, Parshva, um jovem príncipe, quando chegavacom seu séquito de casamento à residência de sua noiva, viu perto dali umcercado abarrotado de animais, esperando para ser abatidos. Chocado com os dosanimais, o príncipe perguntou: “Por que esses animais estão sendo mantidos emtão cruéis condições?” Os seus ajudantes responderam: “Eles são para o banqueteda festa de casamento.”

O jovem príncipe foi dominado pela compaixão. Aochegar à sala de cerimônia de casamento, ele conversou com o pai da princesa.“Todos aqueles animais presos no cercado para serem abatidos para o banquete decasamento devem ser libertados imediata e incondicionalmente,” disse ele. “Porquê? Os animais existem para o prazer dos humanos. Os animais são nossosescravos e a nossa carne. Como pode haver um banquete sem a carne dosanimais?”, perguntou o pai.

O príncipe Parshva não conseguia acreditar no queacabara de ouvir. Ele disse, alterando a voz: Os animais têm alma, têmconsciência, eles são nossos parentes, são nossos ancestrais. Eles desejam viver tanto quanto nósdesejamos; eles têm sentimentos e emoções. Eles têm amor e paixão; temem amorte tanto quanto nós tememos. O instinto de vida deles não é menor que onosso. O direito deles de viver é tão fundamental quanto o nosso. Não possocasar, não posso amar e não posso fruir a vida enquanto os animais sãoescravizados e mortos.” Sem mais discussão, ele desfez os planos para seucasamento. Ele rejeitou inclusive a vida confortável de um príncipe e,respondendo a um chamado interior, saiu pelo mundo para despertar as massas adormecidas que haviam sido condicionadas a mataranimais.

Segundo conta a história, o reino animal acolheu bemParshva como profeta dos fracos e da natureza. Eles se reuniram em torno dele,em resposta aos seus apelos por bondade. Os pássaros pousaram nas árvores porperto; os peixes chegaram até a beira do lago onde Parshva meditava. Elefantes,leões, raposas, coelhos, insetos e formigas lhe prestaram tributo. Um dia, aover Parshva encharcado pela chuva pesada de monção, o rei das serpentesergueu-se sobre a cauda, criando um chapéu com sua enorme cabeça.

Milhares e milhares de pessoas nas aldeias, vilarejose cidades comoveram-se com os ensinamentos de Parshva. Elas renunciaram à carnee assumiram a tarefa de cuidar do bem-estar dos animais. (negritosnossos)


Colaboração:  Maria ─Estrela Lunar Amarela

Livros disponíveis paradownload livre.


sábado, 17 de setembro de 2011

“Educar para a celebração da vida e da Terra”


17/09/2011

Estamos, novamente, replicando um artigo ─ originário do site cartamaior.com.br ─ de Leonardo Boff, que faz chamada a este post.

Mas antes, cremos ser interessante salientar alguns aspectos de Leonardo Boff, em atenção a quem não  os conheça.

Leonardo Boff nasceu em Santa Catarina, em 1938.

Em 1959, ingressou na Ordem dos Frades Menores, franciscanos.

Em 1984, em razão de sua militância social, sofreu processo pela Sagrada Congregação para a Defesa da Fé, ex Santo Ofício (antiga Suprema e Sagrada Congregação da Inquisição Universal).

Em 1992, novamente ameaçado de punições, renunciou às suas atividades de padre e se auto-promove ao estado laico.

Nos dois períodos, quem “dirigia”  a instituição era, nada mais nada menos que ─ Joseph Alois Ratzinger, atual papa, que desligou-se dela, em 2005, para assumir o cargo, no Vaticano.

Leonardo Boff é doutor honoris causa em Política, pela universidade de Turim (Itália) e em Teologia, pela universidade de Lund (Suécia).

No Brasil e no exterior já foi agraciado com centenas de prêmios, tendo, em 2001 recebido o Nobel alternativo,  em Estocolmo.

Felizmente os movimentos sociais, não só do Brasil como de outros países contam com essa figura maravilhosa de Leonardo Boff. Sua militância,  é algo de extrema importância,  justamente por suas fortes convicções,  seu extremo senso de justiça, discernimento e, brilhante inteligência.

Para quem quiser saber mais, de Leonardo Boff, inclusive sua extensa e importante bibliografia, o site é:  www.leonardoboff.com

Vamos então ao artigo, já referenciado, todo ele em itálico.

Dada a crise generalizada que vivemos atualmente, toda e qualquer educação deve incluir o cuidado para com tudo o que existe e vive. Sem o cuidado, não garantiremos uma sustentabilidade que permita o planeta manter sua vitalidade, os ecossistemas, seu equilíbrio e a nossa civilização, seu futuro. Somos educados para o pensamento crítico e criativo, visando uma profissão e um bom nivel de vida, mas nos olvidamos de educar para a responsabilidade e o cuidado para com o futuro comum da Terra e da Humanidade. Uma educação que não incluir o cuidado se mostra alienada e até irresponsável.

Os analistas mais sérios da pegada ecológica da Terra nos advertem que se não cuidarmos, podemos conhecer catástrofes piores do que aquelas vividas em 2011 no Brasil e no Japão. Para se garantir, a Terra poderá, talvez, ter que reduzir sua biosfera, eliminando espécies e milhões de seres humanos.

Entre tantas excelências, próprias do conceito do cuidado, quero enfatizar duas que interessam à nova educação: a integração do globo terrestre em nosso imaginário cotidiano e o encantamento pelo mistério da existência.

Quando contemplamos o planeta Terra a partir do espaço exterior, surge em nós um sentimento de reverência diante de nossa única Casa Comum. Somos insepráveis da Terra, formamos um todo com ela. Sentimos que devemos amá-la e cuidá-la para que nos possa oferecer tudo o que precisamos para continuar a viver.

A segunda excelência do cuidado como atitude ética e forma de amor é o encantamento que irrompe em nós pela emergência mais espetacular e bela que jamais existiu no mundo que é o milagre, melhor, o mistério da existência de cada pessoa humana individual. Os sistemas, as instituições, as ciências, as técnicas e as escolas não possuem o que cada pessoa humana possui: consciência, amorosidade, cuidado, criatividade, solidariedade, compaixão e sentimento de pertença a um Todo maior que nos sustenta e anima, realidades que constituem o nosso Profundo.

Seguramente não somos o centro do universo. Mas somos aqueles seres, portadores de consciência e de inteligência. pelos quais o próprio Universo se pensa, se conscientiza e se vê a si mesmo em sua esplêndida complexidade e beleza. Somos o universo e a Terra que chegaram a sentir, a pensar, a amar e a venerar. Essa é nossa dignidade que deve ser interiorizada e que deve imbuir cada pessoa da nova era planetária.

Devemos nos sentir orgulhosos de poder desempenhar essa missão para a Terra e para todo o universo. Somente cumprimos com esta missão se cuidarmos de nós mesmos, dos outros e de cada ser que aqui habita.

Talvez poucos expressaram melhor estes nobres sentimentos do que o exímio músico e também poeta Pablo Casals. Num discurso na ONU nos idos dos anos 80 dirigia-se à Assembléia Geral pensando nas crianças como o futuro da nova humanidade. Essa mensagem vale também para todos nós, os adultos. Dizia ele:

A criança precisa saber que ela própria é um milagre, saber, que desde o início do mundo, jamais houve uma criança igual a ela e que, em todo o futuro, jamais aparecerá outra criança como ela. Cada criança é algo único, do início ao final dos tempos. E assim a criança assume uma responsabilidade ao confessar: é verdade, sou um milagre. Sou um milagre do mesmo modo que uma árvore é um milagre. E sendo um milagre, poderia eu fazer o mal? Não. Pois sou um milagre. Posso dizer Deus ou a Natureza, ou Deus-Natureza. Pouco importa. O que importa é que eu sou um milagre feito por Deus e feito pela Natureza. Poderia eu matar alguém? Não. Não posso. Ou então, um outro ser humano que também é um milagre como eu, poderia ele me matar? Acredito que o que estou dizendo às crianças, pode ajudar a fazer surgir um outro modo de pensar o mundo e a vida. O mundo de hoje é mau; sim, é um mundo mau. E o mundo é mau porque não falamos assim às crianças do jeito que estou falando agora e do jeito que elas precisam que lhes falemos. Então o mundo não terá mais razões para ser mau.

Aqui se revela grande realismo: cada realidade, especialmente, a humana é única e preciosa mas, ao mesmo tempo, vivemos num mundo conflitivo, contraditório e com aspectos terrificantes. Mesmo assim, há que se confiar na força da semente. Ela é cheia de vida. Cada criança que nasce é uma semente de um mundo que pode ser melhor. Por isso, vale ter esperança. Um paciente de um hospital psiquiátrico que visitei, escreveu, em pirografia, numa tabuleta que ma deu de presente:”Sempre que nasce uma criança é sinal de que Deus ainda acredita no ser humano”. Nada mais é necessário dizer, pois nestas palavras se encerra todo o sentido de nossa esperança face aos males e às tragédias deste mundo.

Leonardo Boff é teólogo e escritor.

Colaboração:  Maria ─ Estrela Lunar Amarela

domingo, 11 de setembro de 2011

COINCIDÊNCIAS?


                                                     10/09/2011

Dia 27/08 postamos ─ IMPASSE DECISIVO.

Ao final, colocamos pensamento de James Stanovnik ─ “A humanidade tenderá para a igualdade social, não por generosidade dos ricos mas sim, pelo seu próprio egoísmo, entregando parte do que tem para não perder tudo.”

Antes de continuarmos, creio que é necessário explicar algo.

Tentei achar James Stanovnik, em buscas, na Internet, antes de postar; nada encontrei.

Retornei às pesquisas, esta semana e encontrei Janez Stanovnik,  nascido na Eslovênia em 1922, economista e ativista político. Creio que este seja o verdadeiro nome do autor daquele pensamento exposto, acima replicado. Talvez tenha me enganado quando anotei-o,  isso nos idos de 1980. Se alguém souber de algo, nesse sentido, por favor, nos informe.

Bem, feita essa observação, qual a razão do título deste?

Acontece que dia 29/08 recebi publicação da Petrobrás, via e-mail ─ Parem de mimar os super-ricos,  artigo traduzido por Cauê S. Ameni, extraído do New York Times. Nele, o mega-rico ─ Warren E. Buffet diz  que ele, e outros pares, não se negariam a maiores tributações, como forma de ajuda às condições atuais, da economia. Entre outras coisas, Buffet diz:

“Enquanto os pobres e a classe média lutam por nós no Afeganistão, e a maioria dos norte-americanos se esforça para fechar suas contas, nós mega-ricos continuamos a desfrutar de incentivos fiscais extraordinários. Alguns de nós,  somos gestores de investimentos. Ganhamos bilhões com nosso trabalho, mas podemos classificar nossa renda como “participação nos resultados”, pagando uma pechincha de 15% de imposto. Outros, aplicam nos mercados futuros de ações e obtêm, em dez minutos, lucros de 60% sobre o capital aplicado. Mas seu ganho é taxado em apenas 15%, como se estivessem investindo a longo prazo.”

“Conheço bem muitos dos mega-ricos. Em geral, são pessoas muito decentes. Eles amam os Estados Unidos e apreciam a oportunidade que este país tem dado a eles. Muitos aderiram à Giving Pledge [filantropia], prometendo doar a maioria de sua riqueza para o bem comum. A maioria não se importaria de ter que pagar mais impostos, especialmente quando muitos de seus concidadãos estão realmente sofrendo.”

“Eu e meus amigos já fomos mimados por tempo suficiente pelos amigos-dos-milionários no Congresso. É hora de nosso governo levar a sério a divisão do sacrifício.”

Tem mais.

Em 04/09, no site rebelion.org. , encontro este artigo ─ Millonarios alemanes exigen que se suba la tributación a las grandes fortunas – Fonte: nuevatribuna.es

“Cuatro millonarios alemanes han hecho un llamamiento a través del semanario político "Die Zeit" para exigir que se aumente la tributación de las grandes fortunas del país, para contribuir a incrementar los ingresos de las arcas del Estado en tiempos de crisis financiera.”

Eis, nesses dois artigos, a incrível coincidência entre o pensamento de Janez Stanovnik e a proposta desses magnatas, de terem  intenção de que suas tributações sejam aumentadas.

Nunca tal fato aconteceu; muito pelo contrário. Todos os mega-ricos, como diz Buffet, sempre foram “poupados”, por razões, as mais diversas. De repente, eles, em gesto espontâneo, em dois lados do Planeta, resolvem admitir que a carga tributária, dos não ricos, é extremamente pesada e as deles, bom... brincadeira!

Mas, como consta do pensamento de Stanovnik, não é porque são “bonzinhos”; é que as coisas andam tão periclitantes (será que esse termo ainda está em uso?), que é melhor  ganhar um pouquinho menos, do que não ganhar nada.

E olha que alguns ainda duvidam que coisas extraordinárias,  estão acontecendo; o inusitado das questões dos dois artigos acima,  talvez estejam antecipando maiores, muito maiores modificações comportamentais, justamente como preparação para o ─ definitivamente surpreendente!

Maria ─ Estrela Lunar Amarela
─ algum erro detectado, por favor, nos comunique.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

GAROTO DA GAITA


03/09/2011

Remexendo em antigos papéis, encontrei uma pequena crônica escrita em 15/04/1985 ─ 12:20 horas, num bar do calçadão,  de Londrina.

É interessante.   Alguns momentos na vida da gente,  marcam.  Ao reler  a pequena crônica lembrei de todos os detalhes; lembrei do garoto, lembrei algo do som de sua gaita; lembrei do sol forte e do céu totalmente azul, sem uma nuvenzinha ─ céu de Brigadeiro, como se costuma falar.

Resolvi, então, postá-la,  como um momento de relax. Pena que não sei o nome do garoto; não sei de seus caminhos, não sei onde está e ele, também, não tem a mínima ideia de que alguém, um dia, escreveu uma crônica para ele e após 26 anos, postou-a, num blog, coisa que nessa época, não existia, é claro.  Que barato, não?

Bem, vamos à crônica, em itálico.

Mesas lotadas.

Entre cervejas, sucos, rápidas refeições e o zum-zum-zum dos papos, uma gaita de boca inicia, timidamente, o entoar de uma canção.

É um jovem, com 18/19 anos quem se aventura ao som da gaita em meio ao burburinho do vai e vem das pessoas; tênis, sandálias, botas, sapatos, nas mais diversas cores, abrigam os pés dos que caminham quase que, desordenadamente.

E o garoto da gaita, ainda indeciso entre tocar e não tocar, coça a cabeça num gesto de dúvida; seu parceiro de mesa deve ter-lhe dito alguma coisa à qual ele não concordou, de cara.

Engraçado, entre todos os calçados que caminham pelo calçadão e os estacionados, nas mesas, o dele é diferente; é feito de couro, desenhos coloridos, grossos cordões e seus pés são calmos; não demonstram agitação, como os demais.

De repente, toma coragem e inicia uma canção, desconhecida para mim, mas linda; talvez de sua própria autoria; quem sabe.

Então, seus pés quietos, sua música suave, seus longos cabelos em desalinho ─ de um castanho claro que reflete o sol ─,  seu sapato diferente e seus olhos ligeiramente sonhadores destoam,  completamente, de tudo que há, ao redor.

Lembra-me um “alienígena” urbano, tão diferente é, dos demais.

Será que ele sabe do Tancredo? Será que ele sabe da máquina, da engrenagem, do sistema?

Ou será que nada sabe do “concreto”? 

Será que  sabe de seus cabelos em desalinho?  De seus olhos sonhadores?  De sua gaita de boca?  De sua canção suave?  De sua sandália colorida? De seus pés calmos?

Talvez,  por ele nada saber, de tudo que aí está, o que aí está lhe paga na mesma moeda; pois do garoto  da gaita, cabelos longos,  música suave e sandálias coloridas, talvez também, ninguém saiba.


Maria ─ Estrela Lunar Amarela


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