segunda-feira, 18 de agosto de 2014

SOBRE EDUCAÇÃO PÚBLICA


 
Conforme havíamos combinado, assim que terminássemos um novo projeto para área da educação, falaríamos sobre esse tema que invadirá, pela enésima vez, os debates políticos, neste ano de eleição.

Podemos dizer que acumulamos certa experiência, nessa área, tanto em função de projetos quanto a conversas com ambos os lados ─ professores e alunos; neste, iremos abordar, de forma bem simples e direta, exatamente o teor dessas conversas e, observações pessoais.

A relação professor/aluno, principalmente nos tempos de hoje, é bem mais complexa do que se possa imaginar; essa complexidade vem aumentado em função de muitos fatores, mais especificamente a partir dos anos 90.

Justamente a partir da década de 90, uma avalanche de escolas particulares de ensino básico e médio, atingiu o Brasil; um ranking elenca as melhores delas, em cada cidade, em cada Estado.

BUSINESS SCHOOL, foi a tradução dada, para pesquisa que fiz de Escola Negócio; se não estiver certa, o erro não é meu, pois inglês, para mim, resume-se a pouquíssimas palavras, que conheço.

Qual a razão de definir a grande maioria de escolas particulares, dessa forma? Muito simples ─ é exatamente o que elas são!

Os alunos, nelas, são vistos como clientes aos quais deverá ser garantida soberania de exigências àqueles que são arregimentados como professores; estes, são regiamente pagos para oferecer excelência de ensino ── sob a ótica do sr. Mercado, é claro, o que invalida estímulos, ao pensamento livre ─ e, destilar normas de pensamento/conduta que o Sistema Capitalista/Neoliberal, exige.

São, esses alunos, desde tenra idade, direcionados às expectativas do sr. Mercado; são doutrinados a perpetuação do status quo que permitiu seu ingresso em uma das escolas top de linha.

Por sua vez, os professores empregados por elas, devem dançar apenas e unicamente, conforme a música, imposta; qualquer deslize que comprometa, mesmo que parcialmente, os objetivos da doutrinação, o autor (a) desse, será imediatamente substituído (a); esses professores, não estão lá para ensinar qualquer outra coisa que não seja o regulado pelas escolas e o que determina os currículos; a autonomia, deles, é permitida, ainda que parcialmente, apenas quanto a sua pedagogia de ensino desde que não extrapole muito o convencional.

É evidente, que perante tal disposição, a excelência do ensino ─ dentro da ótica mercadológica ─ fica garantida pois os professores estão constantemente sendo “vigiados” para verificar quais deles dão menos problemas à instituição.

O universo de ensino básico e de 2º grau, comporta uma imensa diferenciação social; se nas ─ business school, alunos e professores convivem em função de uma excelência de aprendizagem e ensino, nas escolas públicas, a convivência entre alunos e professores não leva, na grande maioria das vezes, nem ao aprendizado estritamente necessário, nem ao ensino devidamente qualificado; os 2 membros da equação não encontram equilíbrio, tornando-a de difícil resolução; isso é  demonstrado em ações, revelando a exacerbada dicotomia das posições ─ alunos vs. professores.

Em conversas praticamente confidenciais, com duas professoras de uma Business School, ouvi as reclamações do nível de tensão existente em sala de aula; uma delas já  ouviu, de alguns alunos, uma frase famosa ─ entre várias outras ─ : “você está aqui pra me ensinar, não pra mandar em mim”!

Em tal clima, não pode existir a fundamental empatia entre professor e alunos, que nunca será absoluta, é claro.

Minha pergunta a essas professoras é por qual razão permaneciam nessas escolas; ambas disseram ser em função de salário e complementações que não teriam, em escolas públicas; portanto, manutenção de status quo, somente; não existe comprometimento espontâneo em ensinar; existe a obrigatoriedade, de.

Conversei durante um longo tempo com uma professora de escola pública municipal, em Curitiba; excelente em sua especialidade e reconhecida por, praticamente, todos os seus alunos.

Tudo que ouvi, dela, de certa forma confirmei em conversas com vários adolescentes do ensino médio de 5 escolas públicas.

O maior entrave na problemática – ensino público, não está nem na falta de verba, nem nos salários, nem na condição social dos alunos; está exatamente nos professores, pelo menos na maioria, deles.

Uma grande parte, deles (as) já está naquele período que antecede a aposentadoria; então, se já não eram verdadeiramente professores (as) a desconsideração com os alunos torna-se muito mais evidente.

O rigor, quase extremo, que as business school têm, com o quadro de docentes, inexiste nas escolas públicas; nestas, os únicos apontados como desajustados, inconsequentes, negligentes são os alunos; se não aprendem, a culpa nunca recai sobre os professores; exatamente aí está o grande X da questão.

É claro que o universo atual de alunos das escolas públicas, é totalmente diferenciado do que era a, digamos, 30 anos atrás; até essa época, as famílias não eram, ainda, tão duramente desajustadas e, consequentemente, as crianças e adolescentes, também não; o reflexo do profundo desajuste familiar, seja por qual razão, impregna os que estão tutelados, por; o reflexo disso, em sala de aula é sensível e dimensionável, se assim o quisessem, os responsáveis pela estrutura educacional.

Não quero dizer, com isso, que alunos das business school sejam oriundos de famílias ajustadas; aliás, o contrário é o que mais ocorre; entretanto, essa problemática parece não ser tão sentida pelas crianças e adolescentes, justamente pelas inúmeras e variadas “compensações” de ordem financeira, oferecidas a eles; se algum comportamento mais indesejado é observado, há o recurso dos terapeutas, psicólogos, analistas para analisá-los, “ajustando-os” aos padrões ditos, normais.

Em suma, tanto crianças e adolescente de escolas públicas quanto as privilegiadas das business school, são grandes vítimas de uma estrutura que, na totalidade, está em decadência.

Sabemos muito bem que professores ─ bem como qualquer profissional de outras áreas ─ apresentam consideráveis graus de diferenciação profissional.

Durante toda minha vida de estudante, consegui a sorte de ter professores muito bons; excelentes, apenas 4.

Permitam-me falar de pelo menos 1 deles; na verdade, uma professora de matemática que tive nos últimos 2 anos do então, ginásio; Aída Curi, era seu nome. Mulher muito forte, com presença marcante; as únicas frases ditas por ela, fora do conteúdo da matéria, eram: Bom dia e Até a próxima aula; mesmo assim, as turmas em que dava aula, tinham imenso respeito e carinho por ela e, o nível de aprendizagem, até mesmo dos menos chegados à matemática, era recorde.

Lembro-me perfeitamente, que a cada novo tópico de sua matéria, ao final ela perguntava: “Quais são as dúvidas sentidas, por vocês, em relação ao que foi visto?”

Vejam a diferença imensa dessa mesma pergunta, feita de forma diferenciada: “Alguém tem alguma dúvida, quanto ao que foi visto?”

Nesta forma, a pergunta tende a inibir qualquer participação do aluno; ele (a) não quer ser considerado (a) como uma anomalia, por não ter entendido algo e tudo fica como se o entendimento tivesse sido universalmente, alcançado.

Na anterior, muito pelo contrário, o leque para apresentar dúvidas é estendido a todos (as); existe uma convocação geral, para que elas sejam apresentadas e, isso ocorre dentro de uma normalidade e espontaneidade pois o ─ alguém tem alguma dúvida? ─ foi magistralmente diluída entre todos (as); talvez, intuitivamente, ela já utilizasse recursos da atual PNL, de forma positiva.

Se houvesse, na época, uma avaliação, um teste para ingressar na carreira de magistério ─ algo similar ao da OAB ─ possivelmente seria aprovada com distinção; hoje, se tal avaliação houvesse para professores do ensino público, não tenho a mínima ideia de quais seriam os resultados!

Não é bem questão salarial; não é questão de verba para Educação; não são escassos recursos tecnológicos disponibilizados às escolas os reais problemas da educação pública; particularmente, vejo como principal problema o sucateamento mental da grande maioria dos professores; considero que existem, em número muito pequeno, professores que fazem o possível e o impossível para ensinar e o conseguem; existe um comprometimento espontâneo, deles, em fazê-lo;  esse tipo de professor consegue, até mesmo, a empatia dos alunos mais indisciplinados; eles dimensionam, com extrema sinceridade, a importância de dar um embasamento educacional o mais próximo possível, do ideal.

São essas e outras dezenas de análises que nos levam a pensar na aridez das discussões politiqueiras, sobre Educação Pública.

Atualmente há uma discussão sobre a possibilidade da federalização do ensino público estadual e municipal; essa proposta  nos dá a impressão de ser algo profundamente favorável aos governos municipais e estaduais pois seriam liberados de algo que eles consideram um “tremendo pepino”; se a culpa, quanto aos problemas da Educação Pública não são assumidos pelo Estado e nem pelo município e sim, imputados ─ na grande maioria das vezes ─  indevidamente, ao governo federal, aí então é que tudo se tornará mais fácil para os verdadeiros responsáveis.

Entretanto, fica um ponto de dúvida quanto a aprovação desse projeto pois afinal, muito dinheiro das verbas que vêm do MEC, talvez não tenha como ser “desviado” das escolas a que se destinam, coisa muito comum, até o presente momento. Além disso, a comprovação de aplicação real de verba recebida ─ ao que tudo indica ─,  terá que ser feita pelos próprios responsáveis de cada escola; talvez tudo fique mais, transparente; talvez...

Semana passada, um amigo meu que sabe que não leio a revista veja (em minúsculo mesmo) há mais de trinta anos, mandou-me link de um artigo falando sobre Educação; deixo abaixo, esse link, pois o texto merece ser analisado. Disponibilizei, também, outros 2 links ─ entre tantos outros, que existem ─ sobre mesmo assunto.

No Projeto que enviaremos, após eleições ─ e dependendo de quem a vencer ─, fazemos menção a dois pontos que consideramos prioritários na tentativa de uma atualização do Ensino; são eles:  a necessidade urgente de elaboração/criação de um Projeto Pedagógico Alternativo e, a observância de mudança do pensar analógico para o digital. Esses dois pontos, entre outros que analisamos, detalhadamente, no Projeto, são fundamentais para auxiliar crianças e adolescentes a perceber, conscientemente, os caminhos do que é chamado de Nova Era e propor, principalmente aos adolescentes, pensar e expressar seus anseios, em relação a ela pois afinal, são eles que irão vivenciá-la; nada mais justo que possamos dar voz a eles, para que nos digam de suas expectativas; sem isso, será quase impossível contar com a atuação positiva, deles, nas mudanças de paradigmas tão necessárias, neste século XXI.

 

Maria-Estrela Lunar Amarela

─ algum erro, por favor, nos informe.