Podemos dizer que acumulamos certa experiência, nessa área,
tanto em função de projetos quanto a conversas com ambos os lados ─ professores
e alunos; neste, iremos abordar, de forma bem simples e direta, exatamente o
teor dessas conversas e, observações pessoais.
A relação professor/aluno, principalmente nos tempos de hoje,
é bem mais complexa do que se possa imaginar; essa complexidade vem aumentado em
função de muitos fatores, mais especificamente a partir dos anos 90.
Justamente a partir da década de 90, uma avalanche de escolas
particulares de ensino básico e médio, atingiu o Brasil; um ranking
elenca as melhores delas, em cada cidade, em cada Estado.
BUSINESS SCHOOL, foi a tradução dada, para pesquisa
que fiz de Escola Negócio; se não estiver certa, o erro não é meu, pois inglês,
para mim, resume-se a pouquíssimas palavras, que conheço.
Qual a razão de definir a grande maioria de escolas
particulares, dessa forma? Muito simples ─ é
exatamente o que elas são!
Os alunos, nelas, são vistos como clientes aos quais deverá
ser garantida soberania de exigências àqueles que são arregimentados como
professores; estes, são regiamente pagos para oferecer excelência de ensino ── sob a ótica do sr. Mercado, é claro, o que
invalida estímulos, ao pensamento livre ─ e, destilar normas de
pensamento/conduta que o Sistema Capitalista/Neoliberal, exige.
São, esses alunos, desde tenra idade, direcionados às
expectativas do sr. Mercado; são doutrinados a perpetuação do status
quo que permitiu seu ingresso em uma das escolas top de linha.
Por sua vez, os professores empregados por elas, devem dançar
apenas e unicamente, conforme a música, imposta; qualquer deslize que
comprometa, mesmo que parcialmente, os objetivos da doutrinação, o autor (a) desse, será imediatamente substituído (a);
esses professores, não estão lá para ensinar qualquer outra coisa que não seja
o regulado pelas escolas e o que determina os currículos; a autonomia, deles, é
permitida, ainda que parcialmente, apenas quanto a sua pedagogia de ensino
desde que não extrapole muito o convencional.
É evidente, que perante tal disposição, a excelência do
ensino ─ dentro da ótica mercadológica ─ fica garantida pois os
professores estão constantemente sendo “vigiados” para verificar quais deles
dão menos problemas à instituição.
O universo de ensino básico e de 2º grau, comporta uma imensa
diferenciação social; se nas ─ business school, alunos e
professores convivem em função de uma excelência de aprendizagem e ensino, nas
escolas públicas, a convivência entre alunos e professores não leva, na grande
maioria das vezes, nem ao aprendizado
estritamente necessário, nem ao
ensino devidamente qualificado; os 2 membros da equação não encontram
equilíbrio, tornando-a de difícil resolução; isso é demonstrado em ações, revelando a exacerbada dicotomia
das posições ─ alunos vs. professores.
Em conversas praticamente confidenciais, com duas professoras
de uma Business School, ouvi as reclamações do nível de tensão existente em
sala de aula; uma delas já ouviu, de alguns
alunos, uma frase famosa ─ entre várias outras ─ : “você está aqui pra me
ensinar, não pra mandar em mim”!
Em tal clima, não pode existir a fundamental empatia entre
professor e alunos, que nunca será absoluta, é claro.
Minha pergunta a essas professoras é por qual razão
permaneciam nessas escolas; ambas disseram ser em função de salário e
complementações que não teriam, em escolas públicas; portanto, manutenção de status quo, somente; não existe
comprometimento espontâneo em ensinar;
existe a obrigatoriedade, de.
Conversei durante um longo tempo com uma professora de escola
pública municipal, em Curitiba; excelente em sua especialidade e reconhecida
por, praticamente, todos os seus alunos.
Tudo que ouvi, dela, de certa forma confirmei em conversas
com vários adolescentes do ensino médio de 5 escolas públicas.
O maior entrave na
problemática – ensino público, não está nem na falta de verba, nem nos
salários, nem na condição social dos alunos; está exatamente nos professores, pelo menos na maioria, deles.
Uma grande parte, deles (as) já está naquele período que
antecede a aposentadoria; então, se já não eram verdadeiramente professores
(as) a desconsideração com
os alunos torna-se muito mais evidente.
O rigor, quase extremo, que as business school têm, com o
quadro de docentes, inexiste nas escolas públicas; nestas, os únicos apontados
como desajustados, inconsequentes, negligentes são os alunos; se não aprendem,
a culpa nunca recai sobre os professores; exatamente aí está o grande X
da questão.
É claro que o universo atual de alunos das escolas públicas,
é totalmente diferenciado do que era a, digamos, 30 anos atrás; até essa época,
as famílias não eram, ainda, tão duramente desajustadas e, consequentemente, as
crianças e adolescentes, também não; o reflexo do profundo desajuste familiar,
seja por qual razão, impregna os que estão tutelados, por; o reflexo disso, em
sala de aula é sensível e dimensionável, se assim o quisessem, os responsáveis
pela estrutura educacional.
Não quero dizer, com isso, que alunos das business school
sejam oriundos de famílias ajustadas; aliás, o contrário é o que mais ocorre;
entretanto, essa problemática parece não ser tão sentida pelas crianças e
adolescentes, justamente pelas inúmeras e variadas “compensações” de ordem financeira, oferecidas a eles; se algum
comportamento mais indesejado é observado, há o recurso dos terapeutas,
psicólogos, analistas para analisá-los, “ajustando-os” aos padrões ditos,
normais.
Em suma, tanto crianças e adolescente de escolas públicas
quanto as privilegiadas das business school, são grandes vítimas de uma estrutura que, na totalidade, está em decadência.
Sabemos muito bem que professores ─ bem como qualquer
profissional de outras áreas ─ apresentam consideráveis graus de diferenciação
profissional.
Durante toda minha vida de estudante, consegui a sorte de ter
professores muito bons; excelentes, apenas 4.
Permitam-me falar de pelo menos 1 deles; na verdade, uma
professora de matemática que tive nos últimos 2 anos do então, ginásio; Aída
Curi, era seu nome. Mulher muito forte, com presença marcante; as únicas frases
ditas por ela, fora do conteúdo da matéria, eram: Bom dia e Até a próxima aula;
mesmo assim, as turmas em que dava aula, tinham imenso respeito e carinho por
ela e, o nível de aprendizagem, até mesmo dos menos chegados à matemática, era
recorde.
Lembro-me perfeitamente, que a cada novo tópico de sua
matéria, ao final ela perguntava: “Quais são as dúvidas sentidas, por vocês, em
relação ao que foi visto?”
Vejam a diferença
imensa dessa mesma
pergunta, feita de forma diferenciada: “Alguém tem alguma dúvida, quanto ao que
foi visto?”
Nesta forma, a pergunta tende a inibir qualquer participação
do aluno; ele (a) não quer ser considerado (a) como uma anomalia, por não ter
entendido algo e tudo fica como se o entendimento tivesse sido universalmente,
alcançado.
Na anterior, muito pelo contrário, o leque para apresentar
dúvidas é estendido a todos (as); existe uma convocação geral, para que elas sejam apresentadas e, isso ocorre
dentro de uma normalidade e espontaneidade pois o ─ alguém tem alguma dúvida? ─
foi magistralmente diluída entre todos (as); talvez, intuitivamente, ela já
utilizasse recursos da atual PNL, de forma positiva.
Se houvesse, na época, uma avaliação, um teste para ingressar
na carreira de magistério ─ algo similar ao da OAB ─ possivelmente seria
aprovada com distinção; hoje, se tal avaliação houvesse para professores do
ensino público, não tenho a mínima ideia de quais seriam os resultados!
Não é bem questão salarial; não é questão de
verba para Educação; não são escassos recursos tecnológicos disponibilizados às
escolas os reais problemas da educação pública; particularmente, vejo como
principal problema o sucateamento mental
da grande maioria dos professores; considero que existem, em número muito
pequeno, professores que fazem o
possível e o impossível para ensinar e o conseguem; existe um comprometimento espontâneo, deles, em
fazê-lo; esse tipo de professor
consegue, até mesmo, a empatia dos alunos mais indisciplinados; eles
dimensionam, com extrema sinceridade, a importância de dar um embasamento
educacional o mais próximo possível, do ideal.
São essas e outras dezenas de análises que nos levam a pensar
na aridez
das discussões politiqueiras, sobre
Educação Pública.
Atualmente há uma discussão sobre a possibilidade da
federalização do ensino público estadual e municipal; essa proposta nos dá a impressão de ser algo profundamente
favorável aos governos municipais e estaduais pois seriam liberados de algo que
eles consideram um “tremendo pepino”;
se a culpa, quanto aos problemas da Educação Pública não são assumidos pelo
Estado e nem pelo município e sim, imputados ─ na grande maioria das vezes
─ indevidamente, ao governo federal, aí
então é que tudo se tornará mais fácil para os verdadeiros responsáveis.
Entretanto, fica um ponto de dúvida quanto a aprovação desse
projeto pois afinal, muito dinheiro das verbas que vêm do MEC, talvez não tenha
como ser “desviado” das escolas a que se destinam, coisa muito comum, até o
presente momento. Além disso, a comprovação de aplicação real de verba recebida
─ ao que tudo indica ─, terá que ser
feita pelos próprios responsáveis de cada escola; talvez tudo fique mais,
transparente; talvez...
Semana passada, um amigo meu que sabe que não leio a revista
veja (em minúsculo mesmo) há mais de trinta anos, mandou-me link de um artigo
falando sobre Educação; deixo abaixo, esse link, pois o texto merece ser
analisado. Disponibilizei, também, outros 2 links ─ entre tantos outros, que
existem ─ sobre mesmo assunto.
No Projeto que enviaremos, após eleições ─ e dependendo de
quem a vencer ─, fazemos menção a dois pontos que consideramos prioritários na
tentativa de uma atualização do Ensino; são eles: a necessidade urgente de elaboração/criação
de um Projeto Pedagógico Alternativo e, a observância de mudança do pensar
analógico para o digital. Esses dois pontos, entre
outros que analisamos, detalhadamente, no Projeto, são fundamentais para
auxiliar crianças e adolescentes a perceber, conscientemente, os caminhos do
que é chamado de Nova Era e propor, principalmente aos adolescentes, pensar e
expressar seus anseios, em relação a ela pois afinal, são eles que irão
vivenciá-la; nada mais justo que possamos dar voz a eles, para que nos digam de
suas expectativas; sem isso, será quase impossível contar com a atuação
positiva, deles, nas mudanças de paradigmas tão necessárias, neste século XXI.
Maria-Estrela Lunar Amarela
─ algum erro, por favor, nos
informe.