sexta-feira, 29 de abril de 2011

O ÓLEO DE LORENZO

                                                                                                                           28/04/2011

Assisti, dias atrás,  o filme de 1992,  que serve de título a este post.
Incrível como conexões,  aparentemente sem relação direta ao tema do filme, puderam surgir em meu espaço mental.
Em realidade, o que detonou verdadeira avalanche de conexões com outros temas, foi a incrível luta de um pai e uma mãe, em busca de  auxílio ao filho, portador de uma doença degenerativa ─ ALD-adrenoleucodistrofia ─, que consome, dia a dia a mielina, dando uma sobrevida de, no máximo, 10 anos às crianças portadoras, que são  sempre do sexo masculino. O casal Odone ─ que inclusive criou uma Fundação e mantém site, em inglês, sobre o assunto ─ travou árdua luta em busca de informações, de auxílio à pesquisas relacionadas com suas descobertas, buscando apoio da comunidade médica e científica, parte essa mais complicada e difícil, que a própria pesquisa que fizeram.
Lorenzo Odone, a criança do filme, faleceu em 30 de setembro de 2008, aos trinta anos de idade; sua sobrevida, em função das descobertas dos pais, foi muito, muito superior ao previsto e informado,  pelo médicos, quando a  doença foi diagnosticada, no pequeno garoto.
A comunidade artística, na época, solidarizou-se; em homenagem a ele, Phil Collins compôs e gravou a música ─ Lorenzo.
Duas pessoas motivadas,  conseguiram movimentar centenas de pessoas, direta ou indiretamente envolvidas, com a causa por eles defendida.
Primeira conexão
Que tipo de pais e mães temos,  hoje, nas classes sociais de melhor posição no ranking socioeconômico?  Quais suas verdadeiras preocupações em relação aos filhos?
Sem generalizar, é claro, a verdadeira preocupação parece ser preparar seus descendentes para obterem status social igual  ou,   melhor, dos que eles têm. A preocupação com condições de vida, no hoje e amanhã ecológicos, do Planeta,  parece não existir; a meta continua sendo torná-los altamente eficientes, profissionalmente falando, tal qual  proclama e instiga a mídia subsidiada pelo mercado de consumo. Tudo isso, apesar de toda a avalanche de informações confiáveis sobre graves riscos pelos quais a sustentabilidade saudável, da vida, a curto,  médio e longo prazos,  está seriamente ameaçada. E observe que estamos falando de uma fatia da população, com amplos recursos na obtenção de informações, além das que lhes chegam pelos setores midiáticos  mais conhecidos e badalados  porém, pouco confiáveis,  por serem  profundamente atrelados, submissos ao sistema, em sua vertente mais cruel e desumana ─ capitalismo consumista.
Serão, essas pessoas, alienadas?  Estarão totalmente consumidas, esgotadas em seus loucos afazeres, em busca de mais dinheiro, mais posses? De que forma olham seus filhos?  Como parte importante de seus melhores sentimentos ou, como seguidores automatizados da mesmice materialista, na qual “vivem”? Qual o verdadeiro significado de vida eles têm e infundem em seus descendentes? 
O casal Odone lutou, desesperadamente, até mesmo contra o sistema, em favor de melhor condição de subsistência do filho, face ao mal que o consumia.
Imagino a fantástica revolução que seria, termos milhares e milhares de pais e mães realmente preocupados com as condições futuras, de vida natural,  de seus filhos; conectando-se e criando movimentos importantes, uma grande rede de defesa da VIDA teria, finalmente, força suficiente para forçar  soluções para grande parte dos problemas. Nenhum governo, nenhuma empresa levantará bandeira alguma, nesse sentido;  movimentos como esse, citado acima, nascem de observações, de pesquisas e, principalmente,  de profundo e legítimo amor que, até prova em contrário, é o que deve mover e  sustentar a relação pais e filhos. Será que isso é careta? Será que as coisas,  até mesmo nesse aspecto, tiveram seus valores alterados? Será?
Creio ser interessante citar, aqui, resultado de pesquisas comprovando que os “frequentadores” de redes sociais, desenvolvem, com o passar do tempo, empatia entre os membros  favorecendo, inclusive, ajuda virtual quando algum dos membros expõe dificuldades. Citei o resultado mais importante, da pesquisa, justamente para fortalecer a ideia de que uma Rede Social pela Vida, seria extremamente favorável, forte, eficaz por reunir milhares de pessoas sob os mesmos objetivos.
Por que essa “cobrança” maior aos pais, que o leitor (a) pode detectar, nos parágrafos acima?
A resposta não é difícil; os que têm,  sobre sua responsabilidade, vidas ainda em formação, dependentes, portanto, do contexto amplo em que se encontram ─ família, escola, sociedade, sistema, natureza, Planeta ─, deveriam, creio eu, ter muito maior preocupação com toda a problemática atual, relacionada às condições atuais e futuras, da sobrevivência humana. Os que não têm filhos, os que não possuem dependentes diretos, nessa situação, podem se dar ao luxo ─ apesar de que não deveriam ─ de ignorar tudo que aí está, pois respondem apenas por eles mesmos. Eles podem usar aquelas famosas frases, que se ouve muito, em diversas situações ─ “Não quero nem saber disso” ;  “ tô fora”; “não quero me incomodar”; “ nada pode ser feito.”
Segunda conexão.
O casal Odone, pais de Lorenzo, não se deixou vencer pelos argumentos, muito bem colocados, de médicos de que nada poderia ser feito; que pesquisas,  em relação ao que descobriram e aplicaram, em seu filho, não interessariam à indústria farmacêutica pelo simples fato da ALD não ter incidência tão elevada a ponto de gastarem “dólares”, em pesquisas. Subentende-se que o retorno seria insignificante, para ela; não haveria aumento expressivo,  em seus  já fantásticos e exorbitantes lucros.
Pensei, então, em quanto somos inoperantes em uma série imensa de agressões impostas ao nosso sistema operacional – corpo humano. Pensei em como somos pouco questionadores, quanto ao que somos informados. Só para chamar atenção sobre isso, vamos abordar, rapidamente, apenas um ponto ─ Agrotóxicos.
O Brasil é o 3º maior consumidor de agrotóxicos; pior que isso ─ as grandes empresas do famoso agronegócio, utilizam inúmeros produtos já definitivamente proibidos, principalmente na Comunidade Européia e nos Estados Unidos. O Brasil, infelizmente, é o principal destino de agrotóxicos proscritos no exterior. Fonte: site oeco.com.br
A Anvisa ─ Agência Nacional de Vigilância Sanitária, parece destituída de força maior, quanto ao quesito ─ agrotóxicos, principalmente em função de 2 fatores. O primeiro é a fortíssima bancada do agronegócio atuante tanto na Câmara quanto no Senado; nada que possa representar riscos a esse poderoso setor, tramita  facilmente; a oposição, da chamada  bancada ruralista, é feroz. O segundo fator, mais poderoso, é claro, do que o 1º ─ apesar de estarem totalmente interligados ─  são as multinacionais que fabricam e/ou comercializam os agrotóxicos, entre elas a famosa e destruidora  Monsanto.
Sabe-se que os humanos, em  formação ─ crianças e adolescentes ─, são as principais vítimas de produtos como maça, tomate, alface, cenoura, laranja, morangos e outros mais, que recebem altíssimas doses de agrotóxicos; sabe-se o quanto as carnes estão encharcadas de antibióticos, anabolizantes etc, etc, etc...
Só a título de informação, nossa preferida salada de todos os dias ─ alface com tomate, traz embutida, em altas doses,  agrotóxicos já proibidos em vários países  ─ o endossulfan e o metamidofós. Quanto mais bonitos forem, esses componentes da salada, mais lesivos são;  como o consumidor brasileiro preocupa-se com preço e  aparência, daquilo que compra, então...
Podemos apelar,  para os produtos chamados orgânicos (na verdade, todos os são), assim rotulados por serem isentos de agrotóxicos, pelo menos até prova em contrário. Mas eles são caros, nas redes de supermercados; mas, acredite, não é por culpa do produtor; este,  ─ normalmente pequeno agricultor ─ entrega seus produtos para uma cooperativa; esta,  repassa-os  aos supermercados que são, em realidade, os grandes vilões do preço, pois o “aluguel” das gôndolas é extremamente salgado; ganham com isso e com o preço pelo qual o produto é vendido; às cooperativas e  produtores,  o lucro é bastante reduzido, acreditem.
Sabe, dias atrás estive em Londrina, onde mora uma amiga. Fui com ela a duas pequenas frutarias que vendem produtos orgânicos de pequenos produtores locais e próximos;  fiquei  simplesmente espantada,  com o tanto de frutas, verduras e legumes comprados e com o valor pago; pelos meus cálculos, tudo o que levamos sairia pelo triplo do preço, caso tivéssemos ido a algum supermercado; não é por acaso que as grandes redes que atuam, no Brasil, têm altíssimos lucros! Basta pesquisar, para comprovar isso.
Um importante movimento nacional, que as grandes mídias,  é claro, não trazem ao conhecimento, por razões óbvias, está sendo feito pelo MST, contra os agrotóxicos.  A razão da mídia não falar sobre tem duas “justificativas”; a primeira é em função do MST ─ falar dele, apenas quando se trata de atitudes que, segundo as mesmas, fere o direito à propriedade privada, mesmo que seja totalmente improdutiva; no Sul então, o MST é simplesmente execrado. A segunda,  é que movimentos como esse vão, direta ou indiretamente,  fomentar discussões sobre o poderio do agronegócio e suas monoculturas, que por serem o que são, necessitam de altas doses de agrotóxicos, além da depredação ambiental, que o agronegócio, causa.
Vejam, foi criado até um termo para identificação daqueles que se preocupam com o uso abusivo de química, nos alimentos ─ quimiofóbicos, que são aqueles que, segundo os poderosos do agronegócio, sofrem de QUIMIOFOBIA.  Resta procurar saber se eles comem e dão aos seus descendentes, aquilo que produzem; será? Tenho minhas dúvidas; burros é que não são.
Só para completar esse comentário acima, as empresas de agronegócio, tratam suas produções de forma diferenciada; o que vai para os mercados mais importantes, no exterior ─ principalmente países europeus e Estados Unidos, tem  contratos entre exportador (Brasil) e importador, com cláusulas contratuais proibindo, terminantemente,  a utilização de  determinados agrotóxicos;  a inspeção desses produtos é feita com todo o rigor aqui, antes da exportação e, no destino.  O que fica para o mercado interno, as outras produções,  só Deus sabe como ficam, como estão; não temos a mínima informação, sobre.
Creio ser necessário deixar bem claro o seguinte:  o agronegócio, tal qual está estabelecido, não sobrevive, dizem, sem a utilização de agrotóxicos. Essa campanha do MST é contra 14 agrotóxicos  altamente lesivos ao organismo humano e ao meio ambiente, totalmente proibidos,  na maior parte do mundo e que no Brasil, em função do poderoso setor, a Anvisa ainda não conseguiu suspender. Acredito que se apoiarmos esse movimento do MST ─ e outros, semelhantes ─ com absoluta certeza, bons resultados serão alcançados.
Em relação ao que vimos, dê uma olhada, se for de seu interesse, é claro, no site:  www.inesc.org.br 

Terceira conexão
Noam Chomski , em seu livro ─ O Lucro ou as pessoas ─ expõe, de forma clara, como o sistema trabalha,  incansavelmente,  para afastar possibilidades de que as pessoas se deem conta do que é feito com elas; contam, para isso,  com poderosas mídias que só informam e comentam o que for, digamos assim, liberado pelo mesmo.  O sistema dominante,  gosta e fomenta exatamente o tipo de comportamento, que temos  ─ desinteresse em buscar informações; afastamento de grupos sociais que lutam em favor de mudanças sociais e políticas, importantes; crença de que nada é possível fazer;  perfeita conexão com a parte mais cruel do mesmo sistema: consumismo exacerbado, inconsequente, cruel, devastador.
O casal Odone, sentiu que tinha o direito e o dever de lutar em favor de seu filho, independentemente de quantas observações contrárias, recebiam. Foram em frente; lograram êxito possível,  face ao complexo problema; ao agirem dessa forma, puderam e podem auxiliar milhares de pessoas com problemática semelhante. A Fundação criada por eles,  atua incansavelmente para informar, ajudar pessoas e incentivar pesquisas científicas. Até o próprio sistema curvou-se, perante tal luta.
Temos o direito e o dever de lutar por condições mais saudáveis, de vida, tanto para nós quanto ─ e principalmente ─ para os que ainda não têm condições de fazê-lo, por si mesmos. Essa luta precisa ser fomentada, em princípio, na comunidade em que cada um atua; após isso, é hora de buscar ─ ou criar ─ redes sociais para troca de informações e organização de movimentos, com objetivos definidos.
Isso é um sonho totalmente passível de se tornar realidade; não é Utopia!
Finalizando, o filme que fez chamada para este post é, também, altamente polêmico.  O sofrimento extremo pelo qual passou o  pequeno Lorenzo, pôs em questão o direito do casal Odone em impor, ao filho, tal situação. Entretanto, este ponto não nos cabe  discutir, pelo menos não neste post, mesmo tempo opinião formada, a respeito.
Maria ─ Estrela Lunar Amarela
P.S:  se erros forem encontrados, por favor, nos informe.

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