sábado, 29 de junho de 2013

ESTÓRIA DA CINDI



 
Nesta madrugada, sonhei com a Cindi; decidi que, ao invés de postar o que já estava pronto, deveria contar sua estória.

Cindi foi uma cachorrinha de rua que recolhemos, em meio a uma daquelas tremendas confusões de época de cio.
Era uma “meio” fox paulistinha, bastante judiada, magra; iríamos ficar com ela até o final do cio, operá-la e tentar doação.

O nome Cindi, foi dado por um amigo nosso, Carlos, que chegou pouco após seu resgate.
Os dias foram passando e, de repente, começamos a notar certa mudança em seu corpinho; começou a ficar barrigudinha; achamos que era em razão da boa alimentação e cuidados, que recebia.

Não, não era; ela estava esperando nenês!
A breve estadia pensada, iria tornar-se, em função disso, mais longa.

Chamamos veterinário para dar uma olhada e ver quais eram os cuidados necessários; éramos marinheiras de primeira viagem, nessa questão; ela, não.
Tratamos dela, conforme indicações, inclusive com fortificantes e remédio para anemia, detectada em exame de sangue.

A cada dia, a barriguinha ficava maior; quase vencendo os dias de gestação, que não sabíamos ao certo, chamamos novamente o veterinário pois acreditávamos que ela pudesse ter cruzado com algum cachorro, de porte bem maior que o dela. Fomos tranquilizadas; não havia, nas apalpações indícios, disso.
Enfim, uma noite, notei certa agitação maior; sabíamos que seria quando fosse para os nenês nascerem.

Deitei, como de costume mas fiquei antenada; lá pelas 5 e meia, da manhã, ouvi certos gemidinhos; fui até o quarto que tem, fora da casa, no pátio interno; ela estava arrumando os paninhos e meio que, choramingando. Desse horário, em diante, não dormi mais. Fiquei sozinha, andarilhando pela casa, nervosa.  Minha amiga, que mora comigo disse que não queria ver nada; então, fiquei só.
Seis horas e quarenta minutos, o primeiro bebê, veio ao mundo; depois, outro, mais outro, outro; contabilizei, ao final de tudo ─ 7 lindos filhotes!

Emocionante!
Tudo estava bem. Assim mesmo, chamamos o veterinário para dar uma olhada e dizer o que fazer, dali pra frente. Ele deu parabéns, para a Cindi; segundo ele, era uma ninhada muito bonita, saudável e ela, mãe admirável.

Uns 3 dias após o parto, notamos uma pasta avermelhada que sempre acompanhava suas fezes; procurei pelo veterinário conhecido mas estava em viagem. Chamamos outro; esse nos disse que aquilo era natural; mesmo assim, passou medicação. Depois, bem mais tarde, soubemos que não era tão natural, assim.
O tempo foi passando; chegou a hora de ajudá-la a alimentar a turma; isso foi feito com papinha de ração, moída no liquidificador e dada, a cada um, com uma pequena colherinha.

Lembro exatamente da correria geral quando abria a porta, da área de serviço, para recolhê-los; vinham os 7, liderados pela mãe, aos trancos e barrancos; quando chovia, derrapavam, chegando mais rápido.
Passada essa fase, veio aquela em que a papinha era posta em vários pratinhos e distribuída a todos; que confusão! Caras, patas, rabos ─ tudo tinha que ser devidamente limpo, depois.

Cada um deles tinha uma personalidade específica; uma das garotas era bem quieta, comportada; a outra, a menorzinha que nasceu por último ─ terrível! Brigava com todos os outros, inclusive com os machinhos, que eram mais corpulentos. Eles se pareciam 2 a 2; a figura mais diferente era exatamente a que nasceu, por último.
Uma noite, daquelas bem quentes, aqui de Londrina, lá pelas 2 da manhã, notei, através da janela de meu quarto que dá para esse pátio, certa movimentação. Levantei e olhei.

Inacreditável!
Sabe o que a Cindi tinha feito? Trouxe a toalha para fora do quartinho ─ ESTENDEU,   bem estendida e,  todos os filhotes estavam lá, sob a luz do luar!

Bem, eu chorei.
Eles ficaram lá; quando levantei, pela manhã, ela já os havia recolhido!

Já em fase de doação, começamos a procurar pessoas legais; tivemos muita sorte e todos foram para bons lugares. O duro foi ver a apreensão da Cindi, a cada chegada das pessoas, para escolher os filhotes (quatro machinhos e 3 fêmeas); ela ficava separada mas isso, não diminuía sua ansiedade em voltar e ver se estavam todos, lá. Foi duro; nada, nada fácil.

Depois que a última filhota foi embora ─ aquela mais encrenqueira ─, ela já estava pronta para a cirurgia de castração. Houve certo problema, nessa cirurgia; ela sangrou demais; o corte levou muito mais tempo, que o normal, para cicatrizar. Fazíamos curativo, todos os dias e ela, extremamente colaborativa.
Enfim, tudo bem?

Era o que parecia.
Cerca de um mês, depois, notamos certas atitudes estranhas; também menos fome até que surgiu um sangramento. Levamos ao veterinário; foram feitos vários exames, inclusive ultrassonografia. Um dos exames, mais específico, demorou quase 20 dias para ficar pronto. Enquanto isso, e, em função de diagnóstico preliminar, ela já estava sendo medicada; mas, nenhuma melhora.

O resultado do exame trouxe a certeza ─ Cindi estava com TVT (Tumor Venéreo Transmissível), em adiantado estado, já detectado pelo ultrassom.
No caso da Cindi, especificamente, o tratamento com quimioterapia citotóxica seria apenas uma tentativa, sem garantia nenhuma, de sucesso.

O médico veterinário deixou sob minha responsabilidade, a decisão, pedindo que, se possível, tentasse saber como estavam os filhotes pois, segundo ele, a Cindi tinha realizado um verdadeiro milagre em conseguir tê-los tido e amamentado; segundo ele, jamais tinha visto algo, igual. Era preciso acompanhar os filhotes para ver se não tinha havido, contagio. Tenho feito acompanhamento apenas com 3, por ter mantido certa amizade, com seus donos.
Lembrei, então, que algumas vezes, ao olhar pra ela, notava um olhar triste, distante, até mesmo, dolorido. Nessas ocasiões achava que ela poderia estar sentindo falta de sua dona pois, segundo algumas pessoas aqui do bairro onde moro, a dona dela morreu e a soltaram, na rua.

Mais uma vez, em minha vida, tive que tomar essa dificílima decisão; não iria imputar à Cindy, sofrimento maior já que o resultado, provavelmente, seria o mesmo, da minha decisão.
Não acompanhei o processo todo; uma amiga minha o fez. Entretanto, quando o médico entrou, observei a Cindi e tive certeza, pelo seu olhar, pela sua calma ─ pois era sempre agitada ─, que ela sabia e queria, que assim fosse.

Cindi foi mais uma constatação da pureza, da profundidade que os animais nos mostram; eles são, realmente, a espécie que reúne, de todos nós ─ animais humanos ─, o que de melhor pode existir, em termos de SENTIMENTO!
Foi muito bom tê-la conhecido e agradeço, por todas as lições de Vida, que ela me deu.

 
Maria-Estrela Lunar Amarela
 

 

 

 

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