Relendo o livro de Nilton Bonder ─ A arte de se salvar,
deparei-me com uma marcação feita ─ entre tantas outras ─ em um ponto onde
Nilton explicita a conceituação de Shedim:
“O acúmulo das vidas não vividas são
shedim ─ assombrações que amargam e sujam este mundo.”
Pela pesquisa que fiz, não há correlato dessa palavra
hebraica em português; talvez possamos ousar e, usar a palavra frustração como simples aproximação ao
que realmente shedim, quer dizer.
Nilton usou essa palavra e sua conceituação, em uma parte do
livro que trata de trabalho que realizou de assistência/aconselhamento a
pessoas enfermas, quase terminais, mais especificamente em função de pergunta não incomum ─ “Rabino, o que
foi que eu fiz, da minha vida?”
É sobre a extensão e profundidade dessa pergunta feita tardiamente,
em meu entender, que vai se ancorar este post.
Vamos vivendo nossa vida, da forma como se apresenta ─
totalmente envolvida em paradigmas, em conceituações, em suposições e
imposições de diversos níveis e, anos-luz de distanciamento daquilo que deveria
ser um possível farol iluminador de nosso tempo nesta dimensão ─ a MORTE.
A simples menção dessa palavra assusta a grande maioria de
animais humanos; ela é constantemente descartada de conversas mais sérias e
profundas e isto, de forma bem mais acentuada em nós, ocidentais.
No livro de Castaneda ─ Viagem a Ixtlan, dom Juan diz: “A
morte é uma conselheira” e, ainda: “Qualquer ato nosso pode bem ser o último”.
Pode parecer extremamente estranho o que vou dizer mas, para
a maioria dos animais humanos a vida ─ da forma como normalmente é “vista” ─ é
a maior e mais potente ─ ilusão
isto, em função de nossa total incapacidade em pensar a morte e, por
considerarmo-nos viventes “eternos” como pessoa, deixando para amanhã coisas que
poderíamos e deveríamos fazer no Agora pois o amanhã, pode não nos brindar com
sua presença.
Desperdiçamos um potencial enorme de realizações, não materiais pois as materiais, têm
nosso empenho irrestrito; fazemos o possível e o impossível para nos mantermos materialmente bem. Permanecer
materialmente bem é, para a maioria dos animais humanos, o objetivo maior,
infelizmente.
Quando o animal humano é atingido por qualquer patologia que
lhe aponte o possível fim de sua existência vem a pergunta que Nilton citou:
“... o que foi que eu fiz, da minha vida?
─ feita a ele mesmo ou a alguém
que lhe esteja próximo.
E essa pergunta, creio, nunca contempla o aspecto material da
vida; contempla realizações pessoais que, por diversas razões não foram
alcançadas não propriamente por impossibilidades materiais e sim, por total
falta de atitude frente a objetivos reais de VIDA esta sim, em maiúsculo.
Objetivos reais de vida ─ ao inverso dos fantasiosos que são
quase unânimes, entre os animais humanos, pois contemplam apenas os aspectos
materiais ─ são extremamente variáveis mas pulsam no mais íntimo, de cada um e,
ficam no aguardo de alguma situação que permita sua realização; postergá-los,
na verdade, nunca é a melhor decisão.
Curiosamente vejo muitas pessoas que tem filhos ou uma
carreira profissional a zelar, dizerem: quando meus filhos crescerem vou dedicar um
tempo aos meus sonhos, a tudo que quis fazer mas não pude por causa deles;
ou, quando me aposentar vou realizar meus
sonhos. Muitas vezes os filhos crescem, os netos vêm e tudo continua igual;
às vezes a aposentadoria chega tarde demais para as realizações quando junto,
vem alguma séria disfunção física. Então, no final da existência terrena a
maioria dos animais humanos, está lotado de frustrações que impregnam o resto
de seus dias e, quase afastam outras pessoas, pelo espectro energético ruim,
das frustrações.
Nessas pessoas desenvolve-se, por vezes, uma pena de si
mesmas que as corroem; normalmente, culpam Deus e o mundo, pelas suas
frustrações; não conseguem enxergar que a culpa é exclusivamente delas mesmas
por seu Intento ter sido fraco, por não terem tido suficiente
ousadia/coragem de ir contra o que está estabelecido como normal, como certo,
como bom, como coerente seja em que esfera for.
Na verdade, é muito difícil, exige muita coragem deixar de
fazer aquilo que nos dizem, desde pequenos, ser o correto para a vida do animal
humano; normalmente o que nos dizem ser o melhor, apenas agrega um punhado de
responsabilidades difíceis de serem suportadas quando, no nosso interior,
palpitam outros anseios como, por exemplo, o de ser livre, até onde essa
liberdade for possível. Essa sobrecarga de responsabilidades que impregna,
principalmente, as questões materiais, os desejos materiais desgastam
profundamente pois parece não ter fim; os desejos são sempre renovados e os
meios para consegui-los exige trabalho redobrado, para a maioria; o desgaste
energético é brutal produzindo toda uma série de desajustes físicos, mentais,
emocionais que vão, aos poucos, minando até mesmo, aqueles anseios mais
íntimos, de realização.
O que se tem, não nos
faz SER!
Assim, pendências existenciais não devem ser deixadas para se
pensar nelas nos momentos que antecedem o “último suspiro” pois, nesse caso,
ele poderá não ser tão libertador quanto deveria e/ou poderia ser.
É o que penso.
─ qualquer erro, por favor, nos informe.
Livros disponibilizados para download:
EgoCiência e SerCiência ─ Ensaios
EgoCiência e SerCiência ─ Em busca de conexões quânticas
EgoCiência e SerCiência versus Algumas questões humanas
Muito profundo... ah se todos lessem, talvez mais leveza teríamos em volta do Planeta! Sim, menos fazer, mais Ser! AUM!
ResponderExcluirAgradeço, Gisele. Vindo de você o comentário torna-se mais significativo, para mim.
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