sexta-feira, 7 de março de 2014

'SHEDIM"



Relendo o livro de Nilton Bonder ─ A arte de se salvar, deparei-me com uma marcação feita ─ entre tantas outras ─ em um ponto onde Nilton explicita a conceituação de Shedim: “O acúmulo das vidas não vividas são shedim ─ assombrações que amargam e sujam este mundo.”

Pela pesquisa que fiz, não há correlato dessa palavra hebraica em português; talvez possamos ousar e, usar a palavra frustração como simples aproximação ao que realmente shedim, quer dizer.

Nilton usou essa palavra e sua conceituação, em uma parte do livro que trata de trabalho que realizou de assistência/aconselhamento a pessoas enfermas, quase terminais, mais especificamente em função de pergunta não incomum ─ “Rabino, o que foi que eu fiz, da minha vida?”

É sobre a extensão e profundidade dessa pergunta feita tardiamente, em meu entender, que vai se ancorar este post.

Vamos vivendo nossa vida, da forma como se apresenta ─ totalmente envolvida em paradigmas, em conceituações, em suposições e imposições de diversos níveis e, anos-luz de distanciamento daquilo que deveria ser um possível farol iluminador de nosso tempo nesta dimensão ─ a MORTE.

A simples menção dessa palavra assusta a grande maioria de animais humanos; ela é constantemente descartada de conversas mais sérias e profundas e isto, de forma bem mais acentuada em nós, ocidentais.

No livro de Castaneda ─ Viagem a Ixtlan, dom Juan diz: “A morte é uma conselheira” e, ainda: “Qualquer ato nosso pode bem ser o último”.

Pode parecer extremamente estranho o que vou dizer mas, para a maioria dos animais humanos a vida ─ da forma como normalmente é “vista” ─ é a maior e mais potente ─ ilusão isto, em função de nossa total incapacidade em pensar a morte e, por considerarmo-nos viventes “eternos” como pessoa, deixando para amanhã coisas que poderíamos e deveríamos fazer no Agora pois o amanhã, pode não nos brindar com sua presença.

Desperdiçamos um potencial enorme de realizações, não materiais pois as materiais, têm nosso empenho irrestrito; fazemos o possível e o impossível para nos mantermos materialmente bem. Permanecer materialmente bem é, para a maioria dos animais humanos, o objetivo maior, infelizmente.

Quando o animal humano é atingido por qualquer patologia que lhe aponte o possível fim de sua existência vem a pergunta que Nilton citou: “... o que foi que eu fiz, da minha vida? feita a ele mesmo ou a alguém que lhe esteja próximo.

E essa pergunta, creio, nunca contempla o aspecto material da vida; contempla realizações pessoais que, por diversas razões não foram alcançadas não propriamente por impossibilidades materiais e sim, por total falta de atitude frente a objetivos reais de VIDA esta sim, em maiúsculo.

Objetivos reais de vida ─ ao inverso dos fantasiosos que são quase unânimes, entre os animais humanos, pois contemplam apenas os aspectos materiais ─ são extremamente variáveis mas pulsam no mais íntimo, de cada um e, ficam no aguardo de alguma situação que permita sua realização; postergá-los, na verdade, nunca é a melhor decisão.

Curiosamente vejo muitas pessoas que tem filhos ou uma carreira profissional a zelar, dizerem:  quando meus filhos crescerem vou dedicar um tempo aos meus sonhos, a tudo que quis fazer mas não pude por causa deles; ou, quando me aposentar vou realizar meus sonhos. Muitas vezes os filhos crescem, os netos vêm e tudo continua igual; às vezes a aposentadoria chega tarde demais para as realizações quando junto, vem alguma séria disfunção física. Então, no final da existência terrena a maioria dos animais humanos, está lotado de frustrações que impregnam o resto de seus dias e, quase afastam outras pessoas, pelo espectro energético ruim, das frustrações.

Nessas pessoas desenvolve-se, por vezes, uma pena de si mesmas que as corroem; normalmente, culpam Deus e o mundo, pelas suas frustrações; não conseguem enxergar que a culpa é exclusivamente delas mesmas por seu Intento ter sido fraco, por não terem tido suficiente ousadia/coragem de ir contra o que está estabelecido como normal, como certo, como bom, como coerente seja em que esfera for.

Na verdade, é muito difícil, exige muita coragem deixar de fazer aquilo que nos dizem, desde pequenos, ser o correto para a vida do animal humano; normalmente o que nos dizem ser o melhor, apenas agrega um punhado de responsabilidades difíceis de serem suportadas quando, no nosso interior, palpitam outros anseios como, por exemplo, o de ser livre, até onde essa liberdade for possível. Essa sobrecarga de responsabilidades que impregna, principalmente, as questões materiais, os desejos materiais desgastam profundamente pois parece não ter fim; os desejos são sempre renovados e os meios para consegui-los exige trabalho redobrado, para a maioria; o desgaste energético é brutal produzindo toda uma série de desajustes físicos, mentais, emocionais que vão, aos poucos, minando até mesmo, aqueles anseios mais íntimos, de realização.

O que se tem, não nos faz SER!

Assim, pendências existenciais não devem ser deixadas para se pensar nelas nos momentos que antecedem o “último suspiro” pois, nesse caso, ele poderá não ser tão libertador quanto deveria e/ou poderia ser.

É o que penso.

 Maria-Estrela Lunar Amarela

qualquer erro, por favor, nos informe.

Livros disponibilizados para download:

EgoCiência e SerCiência ─ Ensaios


EgoCiência e SerCiência ─ Em busca de conexões quânticas


EgoCiência e SerCiência versus Algumas questões humanas


 

 

 

2 comentários:

  1. Muito profundo... ah se todos lessem, talvez mais leveza teríamos em volta do Planeta! Sim, menos fazer, mais Ser! AUM!

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  2. Agradeço, Gisele. Vindo de você o comentário torna-se mais significativo, para mim.

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